Silvino,

Seu filme remete à experiência duma carta—pensada, escrita, mandada—e fala também dos redores duma tal experiência, aqui no contexto brasileiro dum jovem cinéfilo—o tempo passado fazendo outras coisas, coletando memórias & interesses escolhidos para colocar na carta, a leitura/resposta/postagem de outras cartas, o que fica depois das cartas e a esperança em receber mais ainda. Nesse último ponto, parece que as de mais proposições cinematográficas disponíveis com o fim relativo desse tipo de média papelográfico (revistas cinéfilas) para meios digitais de poder acessar mais filmes em menos tempo, alcançaram também desejos carnais que pode(ria)m acontecer entre indivíduos com uma frequência de imagens menos alta —algumas estrelas caíram. Assim, as imagens coletadas no papel estrelaram de verdade um mundo mais profundo —me remete de novo essa citação do Godard sobre o escuro entre as estrelas. Um tal mundo definido por algumas estrelas escolhidas nas páginas dumas revistas oferecia então essas oportunidades de encontros com alta interpretatividade erótica, pois tinha menos pontos luminosos nos quais focar-se e mais espaço entre eles para vagueiar (cruising…).


Enquanto isso, a primeira parte revela um ritmo inusitado (o que a música do N. Jaar faz também). Assistimos a uns recortes de memórias que tentam encontrar uma forma definitiva —que provavelmente nunca chegará. O início duns arquivos, dum ordenamento em quantidade razoável.


Da leitura das cartas, o momento Ewan anuncia as imagens pra seguir: uma dialética da colonialização sendo decolonizada (como o uso desviado dos rostos de atorus como faixas comercias brasileiras). Pensando nesse poder hollywoodiano-cinematográfico em países do Sul global; se todo um formato parece importado como tal (filmes, clubes de fãs, revistas incluindo correio des leitorus, etc.), o uso e as práticas culturais brasileiras criaram uma cinéfilia própria. As ferramentas chegaram sem manual de utilização e as relações relacionaram dum jeito localizado.


O cartaz final expressa um pedido de ajuda, SOS (Save My Soul) [https://youtu.be/Bou1w4LaqMo?si=SEutlSS-seZvhJy4&t=38] um pedido pessoal, que, mesmo ainda usando o cinema como forma de encontro (tal como saunas gays usam o sexo como motivo de encontro, ou os aplicativos a sociabilidade ou o romantismo), é uma vontade de criar relações. Depois do pedido, no seu filme anterior, do direito ao cinema [de rua] na cidade como lugar de encontro, esse último filme está pedindo para conexões humanas através do cinema, ou, em outros termos: para mais presença cinemáto-referenciada no mundo.

Ao final, isso é o ponto alto dum certo queer no seu filme: essa vontade reencontrada de se relacionar com outres. E também porque isso passa por uma perspectiva muito pessoal: assim você sabe quem é, assim você sabe o que quer; assim: deseja.

CORPS-ANTI
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le 11 févr. 2025

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